A idéia de fazer do álcool um aliado do prazer lícito não é atual, mas data da Antigüidade, mais especificamente visível no Império Romano. Havia, nessa época, uma tendência aos prazeres e excessos, como por exemplo o uso abundante do vinho (ideologia báquica), representando pela figura do deus Baco (da Mitologia Grega), deus do prazer e da sociabilidade. Numa sociedade em que o prazer não era menos legítimo do que a virtude (representada por Hércules), o vinho ocupava um lugar privilegiado, ainda que seus efeitos nocivos já fossem percebidos: “O banho, o vinho e Vênus consomem o corpo, mas são a verdadeira vida” (provérbio espartano). Havia muitas reuniões, inclusive no interior das casas, para se beber em homenagem a essa divindade, o que ritualizava a sociabilidade e o prazer de beber.
Esse “princípio” parece permanecer em algumas falas da nossa sociedade e dentro de algumas famílias, ainda que inúmeras transformações tenham ocorrido nesses dois mil anos. É o caso, por exemplo, das propagandas de bebida que exaltam o prazer de beber e as diversas possibilidades que dele se derivam. Parece-nos, no entanto, que a simples proibição da veiculação de propagandas não garante que o álcool deixe de ser usado abusivamente pelos jovens pois, como vimos, isso está arraigado em alguns princípios “herdados” heteronomamente pela sociedade atual. Pensamos que há a necessidade de primeiramente entender o que o jovem pensa sobre o uso abusivo de álcool, qual a sua concepção sobre esse fato, onde está pautado, enfim, tal comportamento.
Ao contrário das drogas ilícitas, o primeiro contato que a maioria dos adolescentes tem com o álcool é dentro de casa, sob o olhar complacente da família, que aceita e tolera esse tipo de substância, passando a imagem de que o álcool, quando “devidamente” utilizado, tem boas funções, como promover o encontro social ou o relaxamento após um dia estafante. O problema é que esse uso nem sempre é devido e o exemplo exibido não é o da taça de champanha para brindar o ano novo ou o de um copo de chope no final de semana, mas de doses diárias para “esquecer” dos problemas ou ficar “um pouco mais alegre”.
O uso abusivo de álcool faz o adolescente sentir-se, muitas vezes, onipotente, o que o leva a adotar posturas de risco, como correr excessivamente, dar “cavalos de pau”, derrapar com o carro, tirar “rachas”. As bebidas alcóolicas estimulam a produção de betaendorfinas (dopaminas e analgésicos naturais do organismo), responsáveis pela sensação de euforia, saciedade e poder. Já a embriaguez e a dificuldade de discernimento, que aparecem junto com o quadro de agitação, são conseqüências da depressão do Sistema Nervoso Central, também provocada pelo álcool.
Os riscos e as conseqüências do uso abusivo de álcool na escola relacionam-se à queda acentuada no desempenho escolar. Adolescentes Em se tratando de analisar os “prejuízos sociais” que as drogas ocasionam no indivíduo, as pesquisas revelam que o álcool mais uma vez se destaca, comparado ao tabaco, à maconha e à cocaína. Por “prejuízos sociais”, os estudos reconhecem as dificuldades nas relações sociais do indivíduo na família, no trabalho e na escola. (p.33)
Um fator importante que pode ser observado entre os adolescentes que usam abusivamente bebidas alcóolicas é o aumento nos comportamentos de risco pessoal e social. Por comportamento de risco pessoal entendemos aquelas práticas que podem causar danos físicos e/ou morais ao adolescente. Por extensão, o risco social são as conseqüências sociais que tais atos podem causar como acidentes, agressões, doenças e até a morte.
Ivankovich (2001) em pesquisa com adolescentes verificou que o uso abusivo de álcool, além de diminuir o prazer sexual, faz com que eles tenham menos cuidado nas relações sexuais. O pesquisador constatou que dos 42% de jovens que mantêm relação sexual depois de beber, 13% não usam a camisinha freqüentemente, expondo-se, assim, aos riscos das DSTs, incluindo a Aids e gravidez não planejada.
Buscar explicações plausíveis para o uso abusivo de álcool na adolescência requer esses mesmos cuidados: observar e entender as motivações conscientes e inconscientes do adolescente, assim como analisar o papel dos pais e da sociedade como um todo. As pesquisas que abordam esse tema precisam investigar esses fatores, dando ênfase a um ou outro, mas nunca negligenciando a importância de cada um deles na definição do comportamento de beber abusivamente.
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